Paulo Rodrigues - O Homem que Desafiou o Poder

O Grupo Banzo, encabeçado pelo pesquisador recém falecido Paulo Rodrigues, surgiu oficialmente no ano de 1976 com um propósito sócio-cultural. A primeira experiência oficial do grupo foi com a criação de um movimento de interação cultural que unia dança, teatro e música. A sede do movimento foi instalada na cidade de Rio Claro - SP, na avenida 2 com a rua 6 e denominada de Centro Experimental de Artes (CEA).
A primeira peça teatral apresentada pelo grupo foi Sarapalha de João Guimarães Rosa, que tinha como participantes Miltinho e Santana e foi dirigida por Paulo. Posteriormente houveram problemas internos que fizeram com que o movimento terminasse.
No entanto, o Grupo Banzo já existia oficialmente e não foi desfeito com o fim do CEA. Outras áreas interessavam os garotos revolucionários. Entre elas, a história do negro, meio ambiente, patrimônio público e políticas de participação popular.
Em cada área de atuação somavam-se membros, ou seja, não existia uma única formação. Muitos participaram do Banzo no decorrer de sua existência. Vale lembrar a participação do fotógrafo José Roberto Melato, do professor de capoeira André Ribeiro, de Tuti Destro e do jornalista J. R. Santana.
Após as divergências com o movimento de interação, o Grupo Banzo se instalou no jardim público ao lado do Anjo da Concórdia para dar continuidade ao trabalho. A primeira ação do grupo no local foi a lavagem performática dos monumentos para contar a história de cada um deles. A revista Veja publicou uma matéria sobre o ato em que transmitiu toda a história ofuscada pelos políticos locais.
Muitos foram os trabalhos desenvolvidos pela trupe. E tudo estava interligado. A partir de 1982, Paulo Rodrigues passou a registrar todos os eventos da cidade sobre meio ambiente, artes, política, musica, dança, folclore e outros. “Eu comecei ser o mais notado do Banzo porque eu tinha uma câmera e filmava tudo” afirmou Paulo em entrevista ao jornal O Beta (n°4, julho de 2007).
O mentor e guru de várias gerações rioclarenses, Paulo Rodrigues, sempre deixou claro o seu amor por Rio Claro. E todas as suas ações a frente do grupo foi, segundo ele, com o objetivo de conhecer os processos históricos passados para entender os desvios e tentar corrigir o presente. “Você não pode somente estudar o poder, tem que estudar o povo. O processo se dá na contradição das relações” afirmou.
O Grupo Banzo representa para Rio Claro a contemporaneidade e propuseram com meios adequados, além da estética artística inovadora, a verdadeira democracia popular. Infelizmente o poder público local sempre se fez de desentendido ou por simples questão de hierarquia deixou de utilizar as idéias para a população.
A última ação do Grupo Banzo, representado somente por Paulo, foi disponibilizar no Youtube os registros audiovisuais que havia feito de 1986 até 1998. ( http://www.youtube.com/user/grupobanzo )

Um Herói de verdade
É estranho perceber que os bons realmente morrem antes. Quem teve o privilégio de conhecer Paulo Rodrigues sabe exatamente o que esse humanista significou. Se Niemayer é o último comunista, Paulo foi e sempre será o último combatente. Eu tive o prazer de ter sido amigo deste homem que acreditou naquilo que eu sou e faço. Guardarei pra sempre na memória seu estranho amor por Rio Claro. Essa devoção que nunca cessou. A incansável busca da identidade do nosso povo. Parece-me que Paulo ainda esta lá, me esperando para uma boa prosa regada a vinho. Se me pedissem para defini-lo em três palavras, eu diria anarquista de carteirinha. Muitos questionaram e questionam os objetivos que ele perseguia. Tenho certeza que não eram pautados no interesse, e sim na intuição de fazer o bem para a cidade em que nasceu, viveu e morreu. Além de humanista, era um otimista de plantão. Afirmava que a situação política, econômica ou seja lá qual fosse estava péssima, mas que tudo podia ser melhorado. Nunca desistiu. Lutou. Rio Claro pode ser dividida em dois momentos: antes e depois de Paulo Rodrigues. Se hoje existem resquícios do patrimônio público foi devido seu amor. Mas antes de qualquer documento, arquivo ou feita, ele era uma pessoa com todas as fragilidades humanas, caminhava sem lenço e sem documento e isso o fazia especial. Creio que tudo de material que ele deixou não é um milésimo da pessoa que perdemos. Tudo, não vale nada. J. R. Santana disse no velório que sua transição foi tranqüila. Penso que sua transição foi tumultuada ao bom e velho estilo Rodriguiano. Com direito a filmagens registrando cada anjo que o recebia. E tenho certeza que ele já se articulou para obter informações preciosas em relação ao sistema político do céu. Paulo foi pra mim e pra tantos outros uma idéia, um alento, um bravo guerreiro, talvez o último. E a semente que plantou não minguará. Paulinho beijo na bunda e pode esperar que eu levo o vinho.